segunda-feira, 12 de julho de 2010

Caso Eliza Samudio

O assunto da semana foi Eliza Samudio. Ou melhor, foi Bruno: a trajetória do menino que saiu das favelas e conquistou fama e dinheiro jogando futebol e que chegou ao auge da sua carreira como goleiro do time mais aclamado do País.
Falou-se muito de Bruno, da crueldade do crime, da frieza do algóz e de seus comparsas, mas falou-se muito pouco de Eliza e falou-se menos ainda das muitas Elizas de nosso País.
Engraçado que o machismo é tanto que algumas vezes dá impressão que a vítima também deveria ser levada ao Tribunal do Júri. "Eliza, ex-brasileirinha", "Eliza, amante de Bruno", "Eliza, atriz pornô". É verdade! Eliza era tudo isso, mas também era mãe, filha, amiga... Nós mulheres temos essa capacidade de ser muita coisa ao mesmo tempo.
O crime ao qual o Brasil todo assistiu horrorizado tem origem nas mesmas palavras que os jornais utilizam para noticiá-lo. Fazemos parte de uma sociedade que ainda não reconheceu a mulher como dona e proprietária única de seu corpo, de seus desejos, de suas idéias, de seus sonhos. Ainda temos resquícios fortes da mulher-propriedade. Parece bobo, mas nossa cultura ainda é de presentear nossas meninas com bonecas e panelinhas e nossos meninos com os carrinhos, as pipas e as bolas. Somos "predestinadas" desde pequenas, aos cuidados com os filhos e com a casa. Para os homens, é ensinado que nasceram para a diversão (a bola, o carro, a pipa). Ou seja, a liberdade é deles e não nossa!
Bruno, provavelmente, não mataria qualquer de seus amigos - ainda que lhe traíssem. Se Bruno matou mesmo Eliza - ainda não saímos nem da fase de inquérito, mas parece que ele já foi julgado - matou porque ela era mulher e porque a via como objeto (coisa da qual poderia dispôr ou não conforme sua vontade), do qual ele não precisava mais. Ao que parece, Bruno enxergava em Eliza a atriz de filme pornô, com quem teve um romance, e que resolveu encher sua paciência com a história de que tinha um filho seu. Só!
Estima-se que 10 mulheres morram por dia no Brasil vítimas de violência doméstica, segundo dados do Instituto Zangari. As vítimas são como Eliza. Mulheres que em um dado momento, resolvem contrariar os desejos de seus maridos, amantes e namorados, que inconformados em perder o domínio, ceifam suas vidas. 
O crime atinge da mais baixa até a mais alta classe social. Não escolhe família. Provavelmente, se cada um de nós pensar, conhece pelo menos três mulheres que são frequentemente violentadas. Ainda que não fisicamente, mas moralmente.
Por que elas continuam na relação? Porque este tipo de conduta faz com que a mulher perca sua auto-estima, envergonha, humilha e, com o passar do tempo, retira dela sua capacidade de acreditar que pode dar um novo rumo a sua vida.
Infelizmente, nossas delegacias mal preparadas, a falta de abrigos para mulheres violentadas, nosso Judiciário também com seus resquícios machistas, contribuem ainda mais para que estas mulheres não acreditem que consigam sair da prisão psicológica na qual se encontram.
Entretanto, cabe a cada um de nós lutar pela mudança desta postura tanto nas instituições como na sociedade. Hoje contamos com a Lei Maria da Penha que, ainda que não esteja sendo cumprida em sua integridade, trouxe nova esperança sobre o tema.
Se você é vítima de violência, denuncie! Busque seus direitos de uma vida em plenitude e com liberdade!
1º) Ligue no Disque-denúncia (180). O número presta atendimento a todo Brasil.
2º) Procure a Delegacia de Atendimento à Mulher mais próxima e registre a ocorrência.
3º) Procure um advogado especializado ou a Defensoria Pública do seu Estado. O Ministério Público também tem um núcleo de atendimento à mulher.
4º) Compartilhe sua dor com um amigo, com alguém da sua família que possa ajudá-la. Não tenha vergonha. É a sua vida que corre perigo!
5º) Afaste-se imediatamente do agressor e, se possível, leve seus filhos com você. Procure um lugar seguro para refugiar-se.
6º) Não acredite que ele vai mudar. Isto não vai acontecer.

Para todas que se relacionam com alguém:
1º) Observe seu amor. Observe você mesma.
2º) Não aceite relacionamentos onde você chora mais do que sorri.
3º) Não aceite agressões, ainda que verbais. Elas provavelmente evoluírão de forma negativa.
4º) Goste sempre mais de você mesma e lembre-se que o amor verdadeiro é aquele que nos liberta. Sempre.

Com carinho, para todas minhas amigas e clientes.
Adriana Monteiro da Silva

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